sábado, 14 de junho de 2014

Etnia Macua, Norte de Mocambique


 

INTRODUÇÃO

O seguinte trabalho tem como tema  a cultura Macua-Lomue. Com os objectivos abaixo referidos iremos conhecer mais a fundo a cultura deste povo que faz parte do nosso pais, ficaremos a saber qual seria a origem deste povo que ocupa a região norte, centre e alguns países vizinhos. Vamos aprofundar mais na sua cultura tentando perceber alguns hábitos realizados por estes povos. Como já é sabido por todo no nosso países existem regiões que seguem linhagens ( matrelinear ou patrelinear), vamos descobrir que linhagem segue este povo Macua- lomue.


OBJECTIVO

Geral:
Ø  Conhecer a cultura Macua-lomue.
Especifico:
Ø  Descrever a origem do povo Macua-Lomue;
Ø  Analisar a repartição do poder desse povo;
Ø  Caracterizar a linhagem familiar regente neste povo.



CULTURA MACUA-LOMUE

ORIGEM

O povo macua é descendente de um grande povo Banto originário da região centro-africana (grandes lagos), ou seja das grandes florestas congolesas, que se migraram para a região da Africa Austral a procura de terras férteis. Segundo  “ Eduardo da Conceição Medeiros ( 1997 paginas 74-75) este povo de lingua emakhuwa e elomwe estiveram representados no Niassa pelos macuas-lomwes, macuas-chirimas, e macuas-meto. Estes ammetho ocupavam desde o rio Lurio a nascente do messalo. Os macuas- lomues ( alomwes), ocupavam a outra parte do rio Lurio e estes povos estiveram representados por linhagens de clãs exogamicos: alakassi, amirassi, anela, amale, amirolo, aseleja e achepani.
Para alem desta tribo existiam os chirimas ( axirimas) dos clãs amokovo, amwatha, amirassi, amirole, aseleje, e alapini os etnonomos michavam, mpolola, anhamuelo, amanhama, amaranta. Os yao apelidavam-os por alolo ( singular lolo), ou anguru ( singular uguru). A invasão dos angoni de mputa maseko no Niassa provocou uma reestruturação politica entre os yaos e os macuas. De uma forma geral estes povos ( macua-lomue) ocupavam as margens do rio Lurio e Messalo, lago Amaranba para aproveitar a pratica da actividades económicas. Os macua-lomue chefiados por mhua( ou mahua ou maua) nome dinástico, atravessaram o rio Lurio por volta de 1835 a 1840  e fixaram-se a norte deste rio por onde, passavam as caravanas dos Mêto e Quissanga formando maua.
As margens do rio Lurio sempre foram constantemente povoadas, em todos os sentidos, ocupações estas motivadas por situações historias e locais do momento como: seca, fome, guerras, perseguições colónias.
O fundador de Cuamba foi NKWAMBA do povo lomue, de acordo com José Melo Branquinho 1933, as populações de regiões de Ribaue, Lalaua e Malema sofriam violência praticada por sipaios a mando da administração portuguesa.

SITUÇÃO GEOGRAFICA
Actualmente este povo vive no norte de Moçambique, com cerca de 300.000 km2, abrange parte das províncias de Cabo Delgado, Niassa, Nampula, Zambézia, é delimitado ao norte pelo rio (Licungo nas proximidades) Rovuma a, leste o Oceano Indico, sul rio Licungo, próximo do rio Zambeze e o oeste rio Lugenda.
Devido as migrações do sec XIX, e encontram se macuas em Malawi, Tanzânia, Madagascar, Seychelles e Maurícias devido ao trafico de escravos no sec XVIII-XIX.

ORGANIZAÇÃO SOCIAL

Como base da estrutura social e politica dos macua-lomue esta o “ mínimo” tribo. Estes sustentam a explicação como legitima descendência da proveniência feminina, isto é, “ matrelinear”. Na filiação matrelinear a família pode ser um grupo de indivíduos de vários segmentos de linhagem consanguíneos pertencentes a uma mulher antepassada conhecida, a cabeça da linhagem como referencia comum do lado materno outros indivíduos doutras linhagens também podem fazer parte deste colectivo ou pelo casamento ou, desde que haja concordância entre todas as partes.
Os filhos pertencem aa linhagem da mãe e são subordinadas ao “mwene”do mínimo que é o irmão mais velho da mãe. É uma sociedade usorilocal, isto é, o homem tende se deslocar ao mínimo da sua esposa

 DESTRIBUIÇÃO DO PODER

Na linhagem macua-lomue cada parte da linhagem (família) tem sua própria autoridade, que é o “TATA” , tio materno ou seja irmão mais velho da mãe de uma determinada família, o qual é por isso, o chefe de um grupo de unidade interinos. O conjunto de todas “asitata” em um “decamo” que é o chefe do escalão imediatamente superior o chefe da linhagem ( clã), chamada “humo”. Ele é autoridade do conjunto das partes duma determinada linhagem que forman a primeira unidade social macua-lomue chamada “nloko” ( clã com mesmos avos). Em  ordem ascendente tem-se o mwene ( chefe máximo), os filhos passam toda a infância na dependência  da mãe , ela a ensino a educação social.

 

O PROCESSO DE SOCIALIZACAO E EDUCAÇÃO TRADIIONAL DO POVO MACUA-LOMUE

Da primeira, segunda infância ate a puberdade cãs dos distrito de Ile, Alto Molocue, Namoroi, e Lugela na província de Zambézia em Moçambique. A educação do povo macua-lomue é feita em etapas, no entanto não é fácil delimitar a faixa etária exacta nessa educação, por ser complexo e então a dificuldade reside no facto do povo lomue ter permanecido muito tempo limitado na tradição oral, por isso a falta de educação cientifica  do povo macua-lomue foi subjugada pelos outros povos europeus, contaminado os seus aspectos culturais.
Para melhor percebermos o povo macua-lomue temos que definir as seguintes etapas do processo educativo autóctone tradicional que são:
- Socialização, ritualização e historização.
Na socialização: o individuo não nasce com características pré-determinadas para inteligência e para o estado emocional, mas sim, evolui intelectualmente quando interagido constantemente com reflexões sobre questões internas e das influencias da sociedade. A educacao do povo macua-lomue é complexa porque começa numa perspectiva de relação de trabalho de família, de sociedade, de meio ambiente e outras manifestações que esta cultura exige.
Para os povos macua-lomue viver significa estar-com. Existir é um recíproco, fazer-se existir (okala onamukha lihaniwa) na língua lomue, ter diz-se: estar-com (okalano).
“Na” (com) faz parte da maioria dos verbos que indicam as relações de vida do homem:
- Okhuma- na- encontra-se com;
- Wunnuwa-na-crescer com;
- Okhwele-na-amar-se
- Othela-na- casar-se
Autopoiese ou Autopoiesis significa nesta língua “perfeição da vida” que esta nas relações sociais. O homem tanto viver como participa na vida da comunidade. A pessoa é um centro de relações, centro individual, não fechado, mais aberto e dinâmico, e quanto mais se relaciona, se viver e mais cresce como pessoa.

- Ritualização: integração do indivíduo numa ordem simbólica e religiosa, mais específica, o homem é o centro que recebe e ao mesmo tempo oferece e se entrega. Conserva a sua autonomia, mais dentro da harmonia com a família a sociedade e o meio.
Para VYGOTKSY, a função da mediação social nas relações entre o indivíduo e o meio, ocorre através de ferramentas e nas actividades físicas intra- indivíduos é feita através de sinais. Mesmo que o indivíduo nasça com predisposição para algo, ele dependera do que vai aprender ao longo da sua vida nas relações premiadas pelo seu grupo social.
Na cultura macua-lomue falar sobre homem é falar do homem vivente, que cultiva a natureza, da nomes aos seres e as coisas e humaniza-as. O homem como centro é um microcosmo, sendo ao mesmo tempo o lugar cósmico de natureza e sua forma. Mas quando, com sua liberdade, contradiz a ordem da criação, quebra a harmonia e perde seu lugar cósmico. No entanto todas as suas acções se repercute ou se resume na natureza, que perde a sua norma original começa a vigorar o mal sobre ela.
- Historização: para o macua-lomues viver significa existir no seio de uma comunidade, significa participar na vida sagrada e todo é sagrado dos antepassados e preparara a sua própria continuidade nos descendentes. O ambiente em que a criança vive é um influenciador no desenvolvimento motor e mental e principalmente nos primeiros anos de vida.
Por sua vez, este difere de acordo com as variações sociais, económicas, culturais, educação materna e estímulos presentes na casa onde a criança vive. Segundo Super (1976) as diferenças raciais, praticas de cuidados com as crianças e factores culturais são responsáveis por diferenças no desenvolvimento motor.
 De acordo com as ideias de PIAGET (estagio de desenvolvimento da criança) ele diz que dos 0-4 anos de idade que é a primeira infância, ( 5 – 10 anos) a segunda infância. A primeira infância que é dos 0-4 anos é a base para toda a aprendizagem humana. Na cultura macua-lomue usa o termo “ MWANA” para identifica infantes sejam eles meninos ou meninas. A primeira infância que se situa entre os 0-4 anos é o período de educação de hábitos motores, o estreito relacionamento com a mãe constitui as primeiras características do período. Mais do que o meio recipiente passivo do que lhe da criança faz todo por imitar desenvolvendo assim as suas agilidades psico-motora e faculdades de observação e invenção construindo objectos a partir de manipulação de miniaturas da realidade.

ADOLESCENCIA DOS (13-18 ANOS)

Terminada a infância, inicia-se a adolescência com uma autêntica evolução filosófica. Fase intermédia adolescente adulto. Nesta fase tanto o rapaz como a rapariga não deve e nem podem dormir na mesma casa com os pais pois saberão os tabus da casa. O pai é obrigado a fazer uma casinha para a filha bem pertinho da sua e por sua vez o filho faz a sua própria no mesmo pátio. Muitos investigadores dizem que o povo lomue é muito acolhedor e hospitaleiro porque tem sempre uma casa de reserva para albergar os hospedes porque não querem partilhar certos tabus da casa, com alheios e ate mesmo com os próprios filhos. Entre a rapariga e o rapaz existem sortes diferentes, para o rapaz a puberdade surge com a iniciação, e fecha com a sua participação nos ritos de iniciação na puberdade designados por MASSOMA porque se supõem uma educação intencionalmente organizada, relativamente intensiva. Enquanto a rapariga é biológica, isto é a maturidade fisiológica revela-se quando a rapariga apanha a primeira menstruação issu serve de sinal a mãe, como tendo chegado o momento para a realização dos ritos de iniciação.
 Os ritos de iniciação constituem um apogeu a educação tradicional nestas cerimónias se ensina a moral com respeito aos outros e aos mais velhos. Em suma as crianças aprendem tudo sobre a vida. Pois a cerimónia do encerramento acontece no EPWARO ou PUARO em casa das autoridades gentílicas, também pode decorrer em casa do régulo ou em casa dos chefes da família relevante escolhidos durante o trabalho de acampamento.
Os ritos de iniciação são públicos apenas na secção de encerramento, nos conselhos de iniciação denominados por OKHUMA WALUUKHU, o que quer dizer conselhos de saída dos iniciados. Actualmente devido a conjuntura social e sobre todo as transformações socioculturais vigentes na sociedade tradicional moçambicana lentamente vão mudando, os dias demoravam um mês, actualmente duram uma semana em casos específicos menos dias.
Depois destas cerimónias as crianças são obrigadas a não ter nenhum contacto verbal ou gestual com os pais ou educadores durante 2 anos. A cumplicidade entre mãe e filho chega ao fim e passa a reinar a relação de evitamento e profundo respeito. Depois deste tempo de “standy by” impõem-se dizer k vivem menos agregados familiar em casa dos pais e essa convivência é rigorosamente acompanhada pelo seu principal tutor seu tio materno, seu padrinho de iniciação além da comunidade, para que o comportamento dos iniciados seja traduzido em atitudes, seja adequado ou seu estado de iniciado de “ adulto”. Assim devera quebrar este silencio com os educadores com o pagamento de um bem ou comida, é frequente darem matxilo ( rato) pegue na machamba com um prato especial por ter-se tornado homem.
Se por ventura alguém for encontrado a divulgar o segredo “canónico das regiões tradicionais de autóctone”, segredo das práticas dos ritos que vão desde o corte dos prepúcios ate aos ensinamentos da educação autóctones tradicional é “ excomungado” da sociedade, é considerado alguém sem dignidade pelos seus educadores.
Ora a participação do indivíduo na sociedade é condicionada. Portanto, a participação do indivíduo na socialização não se realiza por gosto ou casualidade é uma consequência da própria vida. Sendo assim, a pessoa é um membro de uma sociedade global, integra, organizada, segundo o princípio de todo em todas coisa, e nada fora de coisa nenhuma, É harmonia do individuo com sua comunidade. Em termos de idade cronologia e fisiológica, ele ainda é criança, em termos de idade mental e cultura, o rapaz é adulto e sociedade reconhece como tal, com todos os direitos e deveres inerentes.
Porem o rapaz “ adulto” brinca com os coentanicos, é uma situação em que a “criança” dentro de si convive com “adultos” na mesma pessoa. Não se trata de dupla personalidade mais sem de uma personalidade integrada.
Chegada a fase elas aprendem a encarar o trabalho, a menina replica os trabalhos realizados pela mãe e o rapaz faz o mesmo com os homens. A ordem moral consiste num todo único, é a ordem social é a sociedade, tal com ela é a vida estruturada, que vai desde as crianças ate aos jovens, dos jovens aos adultos, dos adultos aos anciãos, dos anciãos aos antepassados.

CASAMENTO

Todo povo lomue segue a linhagem matrelinear, o sistema matrelinear consiste na transmissão da herança para as mãos do sobrinho da irmã. Neste sistema a rapariga é considerada de riqueza familiar em duplo sentido:
- Sendo ela geradora de novas criaturas, a sua acção ira preservar a seu menino;
- É ela que deve ocupar posições cimeiras da sua família. Contudo a autoridade da filha para questões jurídicas, como enredo, divorcio, falecimento e é representada pelo tio materno, é ele que decide sobre determinados assuntos como casamentos, as cerimoniais fúnebres, os ritos de mediação ou circuncisão e demais questões relacionados com a família neste sentido as crianças pertencem a família da mãe. Segundo Felizardo Chipire, 1992.






















CONCLUSÃO

 Neste trabalho que fala sobre a cultura Macua-Lomue ficamos a saber que a origem deste povo vem de um grande grupo banto originário da região centro-africana nos grandes lagos. Actualmente estes povos vivem nas províncias do norte e centro de Moçambique e nos países vizinhos como Malawi, Tanzânia, Madagáscar e outros. Ficamos sabendo também e estes povos seguem a linhagem matrelinear onde os filhos pertencem a família da mãe e a rapariga é considerada riqueza da família. Estes povos valorizam muito os ritos de iniciação pois marca para eles a passagem da infância para a vida adulta.




















BIBLIOGRAFIA

CHIPIRE. Felizardo. A educação tradicional em Moçambique, pag 32,33 a 35, 1992

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