Nas pesquisas inerentes às culturas dos
povos Sena, Nyungwe e Chuabo, está relacionado à etnia moçambicana no Ensino de
Geografia. Depois de 1992, com o fim da guerra civil, e implementação da
democracia liberal em Moçambique, a região centro do país sofreu algumas
alterações culturais, eis a considerar: hábitos, usos e costumes, tradições
cultural-identitárias, artes, ritual, socialização […] tese explicativa de tais
mutações, o grupo pós em referência, o sul de Tete registaram um
desenvolvimento substancial. O tal, (apoiado nas políticas de reajustamento
estrutural) que comporta acesso à informação, fluxo de movimento no corredor de
Tete trouxe consigo influências globalizacionais para ou sobre a cultura
da região de Tete. A força da globalização afectou a forma do casamento Nyungwe.
Os rituais, assim como a socialização, na comunidade Nyungwe se caracterizam
pela relação, que acontece noutras regiões do país e do mundo em geral. No
entanto neste se defende que o impacto da globalização observa resistência e
aceitação. A cultura Nyungwe, sena, chuabo e outra não só absorve apenas o que
é útil da globalização, mas (também) empresta à globalização.
Palavras-chave: Culturas, Sena,
Nhúngue/Nyungwe; Globalização; Chuabo, Ritos, hábitos;
O presente trabalho de pesquisa
em grupo vai tratar o tema em titulado “as culturas dos povos Sena,
Nyungwe/Nhúngue e EChuwabo/Chuabo”
e ele está estruturado em três capítulos. Neste contexto a Língua XiSena
vulgarmente conhecida por Sena é uma das línguas bantus mais falada, das 11
províncias moçambicanas o XiSena é falado em 4 províncias nomeadamente Sofala,
Zambézia, Manica e Tete. A língua sena é falada no Centro do país. Os Nyungwe
são grupos etnolinguísticos sediados maioritariamente na margem sul do rio
Zambeze. Sua concentração se verifica nos distritos da Cidade de Tete e
Changara, a sul da província de Tete ainda no centro do nosso país. E EChuwabo é uma língua falada na região
à volta da cidade de Quelimane, na província central da Zambézia, em Moçambique; É uma língua bantu, da grande família Níger-Congo e do grupo das línguas Emakhuwa. Assim o conjunto de regras e ritos que
caracterizam as culturas Sena, Nyungwe e Chuabo, constituem uma das dimensões
identitárias de uma sociedade ou comunidade moçambicana. A qualquer prática
cerimonial os povos obedecem conjunto de regras e ritos que são preservados,
transmitidos e difundidos de geração para geração. O trabalho foi fácil pelo
método usado é dialéctico, consulta bibliográfica e documental e seus
objectivos:
Objectivo geral
v Conhecer as culturas dos povos
moçambicanos, africa austral e mundo;
v Explicar as tradições cultura-identitárias
de povos sena, Nyungwe,chuabo e outros povos.
Objectivos específicos
v Analisar as dimensões identitárias de uma
sociedade ou comunidade moçambicana;
v Identificar etnologicamente a divisão das
culturas dos povos, por regiões moçambicanas;
v Avaliar os impactos da globalização, nas
culturas dos povos Sena, Nyungwe e Chuabo.
A antropologia é comumente definida como o
estudo do homem e de seus trabalhos. Assim definida, deverá incluir algumas das
ciências naturais e todas as ciências sociais; mas, por uma espécie de acordo silencioso,
os antropólogos tornaram como campos principais o estudo das origens do homem,
a classificação de suas variedades e a investigação da vida dos chamados povos
primitivos (LINTON apud MELLO, 1986 p. 18.).
Cultura é este conjunto complexo que
inclui conhecimento, crença[1],
arte, lei costumes e várias outras aptidões e hábitos adquiridos pelo homem como
membro de uma sociedade. (LEVI-STRAUSS, apud MELLO 1986, p. 397).
O termo Anthropos deriva do grego e
significa “estudo do homem” ou “ciência do homem”. Fica confuso ao se perceber
mais um significado de estudo do homem, esta tradução se encontra em outros
termos como: genética, sociologia, zoologia, psicologia e muitos outros, mas o
que realmente diferencia o estudo em foco é exatamente o objeto material, que
envolve diversos casos. O Conceito Antropológico de Cultura Segundo Luiz
Gonzaga de Mello
Tabela:1
Grupos Linguísticos
Grupo Linguístico
|
Língua
|
SENGA-SENGA
|
Sena
|
Nyungwe
|
|
MAKUA
|
Chuabo/Cuambo
|
A Língua XiSena vulgarmente
conhecida por Sena é uma das línguas bantus mais falada em Moçambique (antiga
colonia portuguesa em Africa, pais localizado na parte Austral de Africa e faz
fronteira com o Africa do Sul, Zimbabwe, Malawi, Tanzânia e Zâmbia). Das 11 províncias
moçambicanas o XiSena é falado em 4 províncias nomeadamente Sofala, Zambeze,
Manica e Tete. A língua sena é falada no Centro do país contemplando cerca de
milhões de pessoas. Moçambique tem actualmente cerca de 22 milhões de
habitantes.
Os Senas
Ocupam os senas toda área compreendida
pelas terras marginais do rio Zambeze, desde Tambara (Manica), circunscrição de
Chemba (Sofala), ate ao delta do grande rio, concelho do Chinde (Tete e
Zambézia), com excepção[2] de
uma pequena faixa correspondente a área do Posto Administrativo de Ancuaze, que
é habitada por indígenas que se dizem pertencer ao grupo dos Maganjas e que tem
características muito distintas na indone e nos hábitos.
Os senas descendem de um grupo de indinas conhecidos
por ba-sengas oriundo dos mucaranjas, que desceram do norte para o vale do
Zambeze, onde se fixaram. MARQUES (1960:13).
De uma maneira geral não são bons
agricultores, mais são bons na pesca e na caça o que fazem com prazer e entusiamos,
também nos artífices, com verdadeiro talento madeira-torneiros e os metais preciosos-ouriveis.
E pacifico sendo pouco dando a crime de morte violenta. Intuição do comercio
pelo desloca através do canais interior dos rios (MARQUES 1960:14)
Segundo MEQUE (1999,p,22) “disse que
tradicionalmente, quando uma criança nasce a mulher (akhapita madzuade). Antes de fazer esta cerimónia, ela era
considerada mukho (tabu). A cerimónia
consistia na lavagem de corpo dela num recipiente de barro. Depois de lavar-se,
a pote com água suja era deitada num lugar especificado tornando-se mukho também”.
Segundo MARQUES (1960,p,15), “a água suja
é metida numa panela que assegura enterram perto duma árvore a qual ficava
denominada madzuade”.
Portanto, podemos considerar que existe
uma divergência na denominação do local em que se enterra a sujidade proveniente
da mulher.
Nesta cerimónia a mulher não podia receber
outras visitas que não sejam as da mulher que já tenha concebido, o mesmo
sucedendo o pai da criança. As mulheres senas para facilitar crescimento do
pénis das crianças costumam fazer lhes massagens apos banho com um suco leitoso
duma planta a quem dão nome de “delela”
(MERQUES, 1960,pp,16)
Se esta cerimónia não era praticada, a
criança podia ter anemia, ou, ate podia estar enxada. O marido também era
obrigado de cumprir certas regras cuidadosamente. Durante este tempo depois do
cumprimento da cerimónia, o povo acredita que a mulher já está limpa. MEQUE
(1999,p,23).
2.
Thati:
40 dias Depois de Nascimento
Esta cerimónia se faz quando um bebé é
tirado de casa pela primeira vez mais ou menos depois de nascimento, chamado thati. Suas mulheres dançam para ensinar
anova Mãe para ensinar como cuidar do bebé.
Quando uma menina atingir 14 anos, as
jovens da mesma idade (já iniciada) dançam (maseseto)
para ensinar a nova mulher. Os homens não estão admitidos para assistir a esta
dança é para apenas mulher que tiram roupa para dança-la. Durante a tal dança
batem palmas e usam os “makhacha”. A
festa pode acabar uma semana ou mais dias, dependendo das condicoes económicas,
ou comida disponível. Estas danças sevem de aulas iniciação e formação duma
pessoa ou mulher bem-educada segundo (MEQUES 1999, pp, 23).
As mulheres senas quando chegam à
puberdade tatuam a parte superior das costas e baixo-ventre, parte superior do
tronco, membros superiores e face, com o simples adornos, com cascas de manga,
untura de cerva ou plantas queimadas. Usam ainda cintos de missangas com varias
cores e enfeites com fins de estímulos eróticos os quais cai sobre
baixo-ventre. MARQUES (1960, p, 17).
Às raparigas é reconhecida a sua
capacidade procriadora no início das primeiras menstruações.
A iniciação dos meninos faz-se numa
maneira diferente de região para região, mas em Zambézia leva 2 ou 3 meses.
Durante este tempo os meninos ficam no mato, ficam circuncidados, e aprendem
como preparar um corpo morto, e tomar contas. Durante este período, não podem
ficar em casa, mas “roubam’’ comida da casa a noite, esta cerimónia já não é
muito praticada. MEQUES (1999, p23).
O casamento tradicional do povo sena
realiza-se da seguinte maneira:
Chegado
o tempo de escolher mulher para casar, o “ sena”, dirige-se a um amigo, o vulgo
“ Nhacuvunzira[3]”
e encarrega-o de procurar a rapariga escolhida e de a informar sobre as suas
pretensões. A escolha recai numa rapariga que seja da sua raça mas de família
diferente-Mututo. Estes factos são ainda reminiscências do totemismo e a
escolha endoganismo.
Iniciando os primeiros passos, o noivo
trata de arranjar o “m¢pepe ”- dinheiro para entregar os pais
da noiva como prova dos seus intentos. Os pais da noiva fazem o mesmo, os de
noivo.
Feito isso, o noivo arranja uma galinha
que mata e vai entregar a mulher que escolheu para madrinha,- para que dela
faça presente aos futuros sogros e que significa pedir serviço -mulenga Tana” que consiste o noivo antes
de casar, servir os sogros por alguns anos. Em continuação das negociações arranja-se
“saguate”- dativa mais substancial e
valiosa o <<M¢Tonilo>>-
o dinheiro ou gado com significado de pedir a noiva em casamento.
No sul do vale de Zambeze predomina
o”levatia” - o noivo constrói a sua própria palhota com ajuda dos parentes,
situado deste modo próximo da casa dos futuros sogros.
Algum tempo depois findo acto sexual o
marido sai da palhota, a tia e outra mulheres vão verifica se consumou o acto e
a noiva estava ou não virgem. Apoderam-se do despojo e saem da palhota em
algazarra, mostrando o pano que ela era pura.
No dia seguinte, os noivos vão banhar-se
devendo a madrinha dar banho o noivo e padrinho à noiva ou vice- versa. Esta
cerimónia chama-se kussambiça. Do
momento que engravidarem não deixa a mulher de manter relações sexuais que só
já em estado avançado da gravidez o deixa de fazer. MARQUES (1960, pp, 17)
Geralmente na família sena, a sogra é quem
dá as ordens às noras naquela casa. Quando uma nora chega a casa ela pode
cozinhar, mas não dividir a comida. As mulheres é que escolhem as partes
melhores duma galinha para servir aos homens: a perna, as moelas, o pescoço, o
peito, o rabo, o fígado. Ficam para mulheres somente as costelas, pés, asas e
cabeça.
Para servir nsomba (um peixe preto com
barbas), ele divide-se em 4 partes: a cabeça vai na mesa dos homens, a barriga
às mulheres, a primeira parte atrás da barriga aos homens, e a segunda às
mulheres. Depois de jantar, os membros da família falam sobres os
acontecimentos do dia, trocam anedotas, e contam estórias que ensinam as
crianças. Estes contos chamam-se Pithakhano.
Dentre
as cerimónias de ensinar o novo casal destacam-se:
a. Nyongolo e Maviniro a Nkwangwa:
uma dança em que a noiva é ensinada para animara o marido, isto é agradecer ao
marido pelas ofertas de roupas que vai comprar para ela durante a vida caseira.
b. Kuphata Nfuta:
acção de ungir com óleo, a mulher senta-se na cadeira especial denominada “m¢phando”
em que esfrega no corpo em quanto o marido observa. É um tipo de teatro para
animar o marido;
c. Kupaswa Mafuwa:
fazem esta cerimónia para dar instrução à noiva sobre a cozinha. É cerimónia de
entregar à noiva as pedra para cozinhar (Kupaswa
mafuwa).
Quando uma mulher casada fica gravida três
meses, ela faz uma dança para mostrar que ela chegou no outro nível da vida. A
partir daí ela pode tirar o seio fora do vestidol (que é proibida até aquela
altura). Na dança só participam as mulheres idosas e a principal jovem. Um partir
desta dança é a verificação na parte da sogra que a nora é realmente gravida.
Se a nora mentiu ela está sujeita a morte.
8.
Morte:
Kufa
Se alguém morrer, tem que se praticar a cerimónia
de Kufa. Quando não se pratica, outras pessoas também podem morrer. Para
cumprir a cerimónia, matam uma galinha (ou mais) que representa a pessoa morta.
Todos comem juntos, guardam os ossos, e quando outros veem de longe mais tarde,
estes pegam os ossos, parra mostrar comunhão com a família, e a que veem de longe
tem que tomar tabaco juntos ou fumar do mesmo cigarro isto ocorre depois de
muito tempo.
Até esta completa a cerimónia da galinha,
ninguém pode ter qualquer contacto sexual, e se alguém não cumprir esta regra
tem que ir ao dono da Kufa[4], e
confessar, “não consegui cumprir a vossa Kufa” se não, vai tossir sangue e
morrer. Antes do enterro, uma dança de tristeza (chamada use) é dançada usando
um só batuque (uma lata). Depois de enterro, dança-se cedo, usando 9 batuques
de várias altura.
a.
Nomes
de Deuses: deus verdadeiro (mulungu) e o criador
de tudo (kulenga). O povo sena adoram mulungu, que e o nzimu (antepassado) de
um grande homem. Os primeiros missionários aceitaram mulungu parra o nome de
deus.
b.
Muya:
o termo significa “vento” ou “ar” mas foi introduzido por mansionários para
espirito de deus (muya wa mulungu ou muya wa mulungu). Assim acreditam que o
ser humano tem três partes: corpo (manungo), alma (ntimaque significa “coração”)
e o espirito (muya).
c.
Minzimu:
são os espíritos dos antepassados mortos e considerado por povo sena como muito
santos. As pessoas convidam os mizimus para viver com eles, dão lhes comida e
comunicam com eles. Os mizimus protegem as pessoas vivas e servem como mediador
entre deus criador.
10.
Nomes
de Demónios
a. Madzoka:
demónios ou pessoas endemoninhadas. É o poder utilizada por curandeiros. Cristo
expulsou Madzoka na bíblia são os demónios que veem a uma pessoa que dizem que
são mizimus assim a pessoa torna-se curandeiro.
b. Cikwambo:
Demónio forte, como Cikwangwali.
c. Cikwangwali:
são demónios muito terríveis cheios de maldades. O povo tem muito medo deles
que possuem pessoas sem serem convidados, e são muito poderosos.
Ninguém convidada este espirito para viver
com eles. Os anyansolos (profeta tradicional) têm dificuldades em expulsar
estes demónios das pessoas. Uma maneira em meter a pessoas endemoninhada numa
cabana e ascender a casinha com fogo. A pessoa é retirada no último momento da
cabana a arder assim pode ficar de Cikwangwali.
d. Nzunzu:
o Cikwangwali do rio ou mar, um tipo territorial que vive na água, MEQUES (1999,pp,
4 à 7)
a. Ng¢anga Wa Kunziwa Mitombwe:
este é o primeiro, que cura somente com ervas e raízes naturais, “ curandeiro
que só conhece medicamentos, e não tem nada ver com demónio.
b. Nyansolo:
o nome refere-se “ aquele que tem que sonhar”, para curar identificar a origem
duma ou da morte de alguém usa o poder do diabo (os Madzoka), e tem que ficar possuído por um espirito para fazer o
teu trabalho.
c.
Nyankhundo:
especialista na descoberta de feiticeiros este é muito temido pelo mfiti
“feiticeiro”, porque sempres consegue descobri-lo. Toca o batuque, depois sobe
no telhado da casa já endemoninhado assim começa falar sozinho e persegue até
apanhar. Bate o feiticeiro com a cauda dum animal o caso é levado ao régulo ou
mambo para ser julgado. Muitas vezes o feiticeiro é morto segundo MEQUES (1999,
pp, 14 à 15)
Cinyungwe, ou Nyungwe, é uma das línguas bantas faladas por mais que 400 mil pessoas em Moçambique, principalmente na margem sul do rio Zambeze, vulgo vale de Zambeze, na província de Tete, desde a fronteira com a Zâmbia até Doa no distrito de Mutarara.
"Nyungwe" como nome
próprio refere a cidade de Tete, na província de Tete, Moçambique. Assim, a
língua Cinyungwe é a língua falada em Tete. E o grupo étnico chama-se
"Manyungwe"
Segundo David Livingstone chegou
pela primeira vez em Tete em 1856. No capítulo 31 do seu livro "Missionary
Travels and Researches in South Africa," ele menciona muitos nomes de
pessoas, localidades, plantas medicinais na língua local.
Em tempos modernos, os elementos
da Língua Nyungwe de Manuel dos Anjos Martins há sido de grande importância.
Publicado em 1991, o dicionário/gramática é a fonte mais extensiva de
vocabulário que existe. Em 1997, a Sociedade Internacional de Linguística
Moçambique (SILM), iniciou vários projectos de desenvolvimento da língua
Cinyungwe, inclusive livros de alfabetização, e compilações de contos
tradicionais.
É
importante perceber, por outro lado, que as normas que constituem a moral duma
sociedade ou comunidades não são estanques e fixas. Elas sofrem alteridade, são
mutáveis. A alteridade se deve à empréstimos entre culturas diferentes, através
do difusionismo [contactos] cultural. Tal alteridade depende outrossim dos
contextos ideológicos e económicos que adjectivam uma determinada época-
é o que Marx chamou, incessantemente, de tom da época. Nyatsimba Mutota,
segundo a lenda, teve que desbravar um campo de cultivo muito extenso (usando a
enxada). Primeiro derrubou a mata. E construiu, como rezava a moral, uma casa
nas propriedades dos sogros. Mas como a demonstração de sua força foi tão
maior, sua fama de homem trabalhador superou as expectativas e ganhou mais
esposas tiradas daquele grupo de parentesco. Mas de lá para cá as regras foram
sofrendo alteridade e as morais também.
A
socialização do rapaz na comunidade nyúnguè tem em conta aquilo que torna o homem
valente e a construção de uma casa (gowero) conta-se como vital.
Segundo
Moore socialização é o processo pelo qual os novos membros aprendem a
enquadrar-se na sociedade e absorvem as regras e a cultura da mesma. Este
processo envolve aprender e aceitar os padrões de conduta que estão ligados a
determinados papéis que se esperam na sociedade, e que são necessários para que
essa sociedades e produza ao longo dos tempos. (MOORE, 2002).
Entre
os Nyungwe, ainda numa tenra idade os pais escolhem padrinhos para
[socialização] seus filhos. Geralmente os padrinhos são pessoas que não partem
da família. O padrinho ou madrinha recebem a designação de nshankulu.
Para o rapaz tem de ser um homem e para a menina uma mulher. Os padrinhos é que
deverão acompanhar o desenvolvimento dos seus afilhados.
Na
cultura Nyungwe não existem ritos de iniciação para os rapazes, mas apenas para
as raparigas. É durante os ensinamentos rituais que a menina aprende a cuidar
do marido, práticas de cuidados com a menstruação
e parto.
É durante os ritos de iniciação que a rapariga
aprende a puxar os lábios vaginais (matingi) para permitir o seu
elastecimento. A função dos matingi é de aumentar o estímulo no homem
durante o acto sexual. Uma vagina desprovida desses requisitos pode ser considerada
estranha pelo homem [Nyungwe].
Por vezes
as raparigas fazem pequenas tatuagens em redor da cintura para originar rugas
ou pequenas ondas ao longo da anca. Essas tatuagens também servem de estímulo
para o homem. Na cara, como tatuagem, desenhavam uma folha de qualquer planta
de estima para aumentar a beleza. Saiba-se que a madrinha da rapariga joga um
papel primordial na socialização da futura esposa.
Já Não Constitui
Prática Corrente
Algumas práticas como a de tatuar a cara tendem a
desaparecer [velozmente]. Não só nas zonas urbanas do sul da província de Tete,
área habitacional dos Nyungwe, mas também nas zonas rurais.
No
concernente à educação do rapaz, pode se afirmar que é diametralmente oposta. A
diferença não reside apenas no facto de serem pessoas de sexo oposto mas no
modo de socialização. Por não serem submetidos à ritos de iniciação, a sua
educação é garantida pelo padrinho e pelo pai. É dos pais que o rapaz deve
aprender a derrubar a mata, desbravar a terra, construir uma casa, ir `a caça,
pastar o gado (que é abundante nesta região de Tete) e, assim, a se tornar no
homem do amanha:
O Noivo: A construção da casa, o derrube da mata e
o desbravamento da terra são saberes importantes para se afirmar como homem
socialmente válido-para conseguir ser acreditado pela moça e mormente pelos
futuros sogros (wamabwala).
Entre
os Nyungwe, geralmente, o rapaz e a rapariga têm sido jovens da mesma
comunidade ou região residencial embora não haja impedimento quanto `a união de
pessoas de grupos de parentesco distanciados ou de realidade socio-cultural
diferente. Depois dos jovens se apreciarem (geralmente porque costuma se ver no
dia-a-dia e nas maltas de brincadeiras) se conquistam (kunyengana). Geralmente a iniciativa de se aproximar ao outro para
manifestar intenção de namoro tem sido do rapaz. As vezes com anuência do Nshankulu/padrinho.
Sobre o conhecimento mútuo, que conduz ao casamento, segundo ORGILA citado pelo
Geraldo Cebola João Lucas defende o seguinte:
“Não há
dúvida de que havia e há mais possibilidades de se estabelecer uma corrente
sentimental entre aqueles que se conhecem antes de se amarem do que de se
estabelecer um profundo conhecimento entre aqueles que se amam. O autor diz que
o noivado, e não o casamento, é o banco de ensaio do amor entre duas pessoas.”
(ORGILA, 1970, p.292-3).
Caso a
rapariga aceite a proposta do rapaz, de imediato ela vai segredar à madrinha e
não à mãe ou ao pai. A madrinha é que transportará a novidade e as
características precisas do rapaz para o conhecimento dos pais da rapariga. Com
a anuência dos pais a madrinha informa a rapariga que o rapaz será recebido
pelos pais.
O
casamento é uma instituição social que visa estabelecer vínculos de união
estáveis entre o homem e a mulher baseados no reconhecimento do direito de
prestações recíprocas de comunhão de vida e de interesses, segundo as normas
das respectivas sociedades. Não se trata de um tipo de partilha qualquer,
deixado ao livre arbítrio e inclinações dos intervenientes, mas de uma comunhão
de interesses mútuos. (MARTÍNEZ, 2009, p. 121).
A
multiplicidade de formas que encontramos nas sociedades ultrapassa, neste caso,
universal cultural e as generalizações, pelo que é impossível considerar uma
única forma de casamento de valor universal. Entre as variadíssimas formas e
normas existentes, permanece sempre o facto da comunhão, socialmente conhecida
e regulada. (Idem).
“A
norma do casamento nas diferentes sociedades contempla as questões que podem
aparecer durante a vida matrimonial, isto é, a infidelidade do homem ou da
mulher, através do adultério, a ruptura do vínculo, provocando o divórcio, As
causas do divórcio variam de sociedade para sociedade. Podem ser: as
esterilidades de um dos cônjuges, a impotência sexual, a incompatibilidade de
caracteres, as desgraças domésticas, as doenças, os maus tratos, a violação, o
concubinato, entre outras.” (MARTÍNEZ, 2009, p. 122).
As
negociações encetadas pela madrinha da rapariga junto dos pais desta conduzem à
eleição duma data para o casamento. A madrinha depois de segredar à rapariga
sobre a data ou período da cerimónia convida os padrinhos do rapaz para
informá-los e se acertar as formalidades.
Há
condicionalismos a serem observados. Para demonstrar que de facto o rapaz é
homem se exige que construa uma casinha no quintal da família da esposa.
Atenção que esta construção não tem relação com sistema matrilinear de
casamento porque não visa a transferência definitiva do jovem para habitar no
quintal dos sogros. Para além de que os filhos não ficam sob tutela dos tios
maternos, como reza o sistema matrilinear do norte do Zambeze. A pequena casa
construída pelo rapaz recebe a designação de gowero. A exigência
da construção do gowero visa provar que de facto o rapaz foi instruído
socialmente para enfrentar a vida adulta. Visto que casa é uma das necessidades
fulcrais para a edificação duma família. Daí que o padrinho do rapaz, assim
como seus pais devem estar certos de que seu filho/afilhado não está preparado
para contrair matrimónio caso revele incompetência no concernente a esta
matéria. Em segundo lugar, a casa a ser edificada pelo rapaz antes da cerimónia
serve também para a primeira noite nupcial e servirá sempre que for de visita
de quarto de descanso ou dormida.
Como
pode se depreender, a construção do gowero é deveras importante, serve
de uma das principais provas para os pais e padrinhos de que a filha não estará
a se casar com um preguiçoso. Porque para a construção do gowero o rapaz precisa estacas apropriadas, capim, cordas e outros
elementos que são explorados da natureza. Como esclarece Inácio Máquina:
“…O
rapaz deve ser capaz de exibir foça e habilidade no processo da construção por
uma questão de credibilidade aos olhos dos sogros e sobretudo da madrinha (n`shankulu wa cikazi). Assim, o corte de
estacas (n`sici), paus maleáveis para
ligar a estrutura da casa (mbaliro),
cordas (nzoi), capim (uswa ou mauswa) para cobertura constitui
um trabalho árduo, daí que a consecução do gowero seja fundamental.” (MÁQUINA,
2010 cp).
Outra
actividade exigida antes de se realizar o casamento é o desbravamento duma
porção de mata para se transformar em campo de cultivo (machamba). Depois de derrubar
e secar a porção florestal deve queimar (kutentha/lupswa).
E por
fim desbravar a terra para a sementeira. Esta prova visa não só exibir força,
mas também demonstrar que a noiva não irá sofrer de fome quando estiver no lar
porque o marido sabe trabalhar a mata para cultivar/produzir. Grande parte da
colheita (primeira daquela machamba) será levada pelos dois (noivo e noiva) para o seu lar e os pais
ficarão tranquilos por ter certeza de que a filha levou mantimento para o novo
lar.
A importância
da enxada repousa neste contexto produtivo e não apenas na sua apresentação
como um objecto. E é este valor simbólico do trabalho ligado `a enxada (phaza)
que é transferido para a união ou o selo do casamento com os brincos. Os
brincos (mphete) por ser pertença feminina unida à enxada (phaza)
perfazem a união e ou selam o casamento. Resulta disso o ditame phaza na
mphete (enxada e brinco). A união desses dois objectos é que fortifica a
relação.
No dia
do casamento a comitiva do noivo (padrinhos, pais, e outros familiares
ou amigos eleitos) se faz `a casa da noiva. Deve levar consigo dinheiro para o
selo do casamento que geralmente deve ser uma nota qualquer, esse dinheiro é o
chamado phaza na mphete.
Entenda-se
que o noivo e sua comitiva não entregam os objectos materiais (enxada real e
brincos reais), mas sim uma nota em dinheiro que simboliza os objectos
referidos. Para que a família do noivo, na voz do padrinho, comece a falar é
preciso dinheiro (cobiri), pede-se um prato à família da esposa e
deposita-se algum dinheiro e se começa a falar. Outro dinheiro serve para kuthamula
n`sana (endireitar a coluna do pai). A coluna deve ser esticada porque, de
algum modo, sofreu no acto do coito com a mãe da noiva. Para além de que se
pensa que a efectivação do feto depende do depósito de espermatozóides de forma
sistemática e contínua.
Na cerimónia a primeira a falar antes todos os
presentes é a madrinha da rapariga. Ela é que introduz a razão do dia e o
colectivo que acompanha o noivo a apresentação próprio noivo é feita pela
madrinha aos pais da noiva.
Depois
disso, o padrinho do rapaz pede um prato e a família do noivo deposita um valor
em dinheiro no prato como forma de pedir permissão para falar. Depois do
padrinho do rapaz introduzir a sua comitiva devolve a palavra à madrinha da
rapariga que por sua vez, em comunhão com os pais anuncia o valor a pagar pelo
acto de kuthamula n`sana (lobolo em cichangana) ou anelamento. O
dinheiro é, geralmente, estipulado em número de cabeças de gado. No geral tem
dito uma cabeça ou uma cabeça e seu vitelo (`gombe na mwanace ou n`gombe
ikulu na i`gono iace.). Antigamente uma cabeça equivalia a dizer
100,00Mt (mbondo) e uma cabeça e seu vitelo equivalia a 100,00Mt e 50, 00Mt
(n`gombe na mwanace); isto no período pós-independência, mas
actualmente a moeda está inflacionada e os preços de gado sofreram alteração. O
preço mínimo duma cabeça de vaca se situa nos 1500,00Mt e um vitelo está a 800,00Mt.
Assim n`gombe ibodzi (uma cabeça) equivale a dizer que o acto de kuthamula
n`sana custa 1000,00Mt. No caso de discordância, a família do noivo volta a
depositar dinheiro no prato como forma de pedir palavra. Assim os acompanhantes
do noivo e este pedem para se isolar por instantes para concertos. Depois disso
volta ao local da concentração e pede a redução do valor ou pede para que o
pagamento seja feito de forma faseada.
É
preciso entender que a forma inicial do kuthamula n`sana não consistia
no pagamento em dinheiro, mas sim em verdadeiras cabeças de gado e na época
era, quase, fácil dado que no geral os Nyungwe eram criadores de gado.
Mas a
ligação da região do Estado dos Monomotapas com o comércio internacional,
primeiro com os árabes e depois portugueses maioritariamente, bem ao comércio
com os missionários transformou a economia de Tete, em economia monetarizada e
proporcionou a estipulação dos pagamentos em dinheiro.
Depois
se tira um valor em dinheiro para selar a união-phaza na mphete. Caso a
união não seja selada e os pagamentos não foram completados o noivo não terá
autoridade, futuramente sobre os filhos e por qualquer motivo a esposa pode ir
para a casa dos pais.
O phaza
na mphete, que mais tarde passará a ser designado (familiarmente) apenas
por mphete (por questão de simplificação do termo) serve não apenas para
selar o casamento, mas também para dissolve-lo. No caso de divórcio, o valor de
phaza na mphete é devolvido à família do noivo ou a ele mesmo. O acto da
devolução simboliza o apagar da relação ou supressão de compromisso.
Segundo
Martínez (op. cit.), a cerimónia nupcial que manifesta socialmente a decisão
dos contraentes, se pode reduzir a um simples acto jurídico, ou a um processo
ritual mais complexo, rico em cerimónias e símbolos, composto por viárias fases
com períodos de tempos mais ou menos prolongados. O casamento tem também uma
dimensão comunitária, que requer além da presença das respectivas das famílias
cônjuges, a participação dos membros da comunidade, ou ao menos, os seus
representantes mais significativos. Nunca se trata de um assunto privado.
Também o carácter festivo forma parte da celebração do casamento em todas as
culturas. Este carácter se manifesta através da apresentação dos próprios
contraentes, do vestuário dos participantes, do tempo decidido à celebração, do
banquete com comida e bebida com qualidade e abundante, na ornamentação do
ambiente exterior e na solenidade do ritmo. (MARTÍNEZ, 2009, p.122).
Entre
os Nyungwe também se verifica festa no casamento. Geralmente a família do noivo
prepara e leva consigo bebidas para acompanhar a refeição do dia. O que se bebe
no geral é m`buadua (pombe) -uma bebida tradicional fermentada com base
no milho ou mapira e maxoeira. Actualmente tem sido costume o
noivo levar garrafão de vinho para servir de suporte o que foi preparado.
O gowero
serve, também, para a demonstração da virgindade da rapariga e da potência
sexual do rapaz. A reprovação da rapariga nesse teste (de virgindade) pode levar o rapaz a renunciar a intenção de formar
um lar com a rapariga ou então à redução do valor do kuthamula n`sana.
Dzico Viagem explica o seguinte:
“…Na
primeira noite, naquele gowero que o genro (nkuasa) construiu é
praticado o primeiro encontro sexual entre os futuros cônjuges. À rapariga é
oferecido um lencinho (pano branco) para levar consigo à palhota (gowero). O
rapaz ao introduzir o pénis deve encontrar pequenas barreiras que sejam sinais
de virgindade e a prova máxima disso deverá ser o sangue que a noiva vai perder
por perder a virgindade.
Por
outro lado a noiva é instruída a colher parte dos espermatozóides e dobrar o
pano. No dia seguinte o pano deve estar bem apegado ou por outra palavra, colado
pela força colante dos espermatozóides, caso contrário será prova segura de que
o rapaz é estéril. E a possibilidade de casamento pode ser anulada ainda cedo.
Se o lencinho colar seguramente será prova de que o homem é reprodutor…”
(VIAGEM, 2010 cp).
E se na
primeira noite, do gowero, o rapaz não conseguir estar excitado ou ter
dificuldades de introduzir o pénis na vagina. A moça poderá reportar a situação
à madrinha e se concluir que o noivo é impotente. Assim, se o rapaz não
consegue introduzir o pénis não reúne condições para ocupar a afilhada. É
preciso entender que toda informação passa pela madrinha em primeiro lugar.
A
necessidade da aprovação social do casamento continua a constituir uma
realidade entre os nyúnguè. No entanto, há opções diversificadas em termos
rituais por causa da multiplicação de seitas religiosas e hibridade populacional.
No entanto, por mais que vá ao registo ou igreja, a parte tradicional do
casamento ainda se conserva como prática indispensável embora com algumas
concessões ou modificações. De qualquer das formas os noivos devem aparecer em
público para que o casamento seja aprovado e legitimado.
Na
maioria das comunidades os rapazes e as raparigas (Manyungwe) não casadas não estão livres de acasalar-se em uniões
temporárias, sujeitos a barreiras do incesto, da exogamia e regulações sociais
como triunfo nas suas comunidades. Mas existem tribos que consideram a
castidade dos não-casados como uma virtude, especialmente nas raparigas e um
lapso é severamente censurado ou punido. Entre os Nyungwe a castidade feminina
era regra exigida. A primeira noite nupcial no gowero servia para provar
se a rapariga era virgem. A rapariga deveria perder sangue no acto sexual como
sinal de perda de virgindade. No caso de não se provar virgindade da rapariga,
a relação terminava, os outros rituais não eram observados por causa da
impureza da mulher. Por outro lado, no caso dos espermatozóides não fizerem
colar o lencinho que a rapariga levava para a relação com o fim de captar parte
dos espermatozóides se concluía que o rapaz era estéril e a noiva poderia
abdicar-se de casar com o jovem. Mas estas práticas foram abandonadas por causa
de estigma que as conotam e pela falta de comprovação científica das técnicas
que eram usadas. Para que a rapariga case (já) não é preciso que seja casta ou
por outra, virgem. E o que pode provar que o rapaz é estéril são consultas
médicas em hospitais.
Malinowski
(1967:32) argumenta que o rito do casamento é como uma regra e também como um
acto ritual com um significado simbólico, e como tal o rito é geralmente
concebido) para possuir uma eficácia mágica; ele contém um preceito moral ou
expressão de um princípio legal.
Uma das
formas de obter esposa e o direito aos filhos dela é trabalhar para eles (os
sogros). Hoebel e Frost (1995: 195) referem que Jacó trabalhou sete anos para
ganhar a mão de Raquel, mais sete anos para ganhar a mão de Lia. A história do
Centro de Moçambique evoca a lenda de Mwenemutapa que trabalhou no
desbravamento de grande machamba para casar uma mulher local: da região situada
entre os rios Luia e Mazoe. Pode-se depreender que na cultura nyúnguè a
descendência se baseia na linha parental do noivo (pai).
O kuthamula
n`sana (lobolo em cichangana) ou valor de anelamento pago à família da
noiva é a progênie para a cultura Nyungwe. Como se afirmou, o dinheiro
(progênie) é, geralmente, estipulado em número de cabeças de gado. No geral tem
sido uma cabeça ou uma cabeça e seu vitelo (n`gombe na mwanace ou n`gombe ikulu na i`gono
iace.). No entanto em nossos dias a progênie é estipulada em valores
monetários e nada quase em gado. Mesmo em regiões que produtores excelentes de
gado como sul do distrito de Changara (Marara e outros Postos Administrativos)
o preço da progênie é estipulado em dinheiro. É preciso sublinhar que, neste
caso, o efeito da globalização não elimina a prática ritual. Mas os objectos
utilizados para o ritual mudam, no entanto o seu valor simbólico não muda nem desaparece.
Deste modo se prova que a cultura se apropriou das novas formas mas não do
conteúdo. O que se regista não é crise de identidade, mas um reajuste ao tom
da época, reconhecimento do novo contexto: uma espécie de resposta `a
realidade global para que não seja marginalizada. Por outro lado, a força do
tribunal e das igrejas na interferência sobre assuntos do casamento não anulam
as práticas rituais do património identitário.
A
constatação de Malinowski sobre o divórcio e seu significado na comunidade é
importante:
“A
regra geral é de que o divórcio é possível mas não é fácil e provoca danos e
desabilidades a ambos os cônjuges. Mesmo onde o divórcio é facilitado para o
marido ou esposa, se regista o pagamento de um considerado preço que deve ser
pago pelo divórcio ou pela liberdade para divorciar e isto é fácil apenas para
os que são sucedidos economicamente. E, geralmente, o divórcio envolve a perda
de prestígio e estigma moral.” (MALINOWSKI, 1967:25).
Entre
os Nyungwe acontecia o mesmo. A cultura patrilinear Nyungwe era tão machista ao
ponto de manter na clandestinidade a esterilidade do homem. Está na razão
disto, a concepção de que o homem que é estéril não difere de mulher é desprezado
pela própria esposa e pela comunidade. A notícia de que esta ou tal mulher é
estéril era difundida pelos grupos de homens para que nenhum homem a
pretendesse por engano, dado que ele mesmo cairia no lenço da vergonha.
Mas não constitui vergonha divorciar. E a esterilidade[5] já
não é tão estigmatizada[6]
culturalmente. Neste trabalho defende-se que o que é bom e proveniente da
globalização[7]
é acatado. Pensa-se que o combate a estigmatização pela esterilidade é um ganho
para a cultura local. O homem estéril (Ngomwa) já não é estigmatizado
com a mesma violência marginalizadora de antes. As notícias de aluguer de
barriga; o recurso de outras técnicas que a medicina oferece para que um casal
possa ter filhos; a normalidade com que se encara adopção de filhos
não-biológicos são factores que contribuem para a redução profunda de
preconceitos confinantes a defeitos genéticos ou biológicos.
EChuwabo é uma língua falada na região à volta da
cidade de Quelimane, na província central da Zambézia, em Moçambique. É uma língua bantu, da grande família Níger-Congo e do grupo das línguas Emakhuwa.
O nome Chuabo é de origem Loló e designa o povo do litoral
zambeziano entre Pebane e a foz do grande rio. O fundo populacional da região é
de estrato lomwé e a mitologia local considera os Chuabos oriundo do monte
limeme em Tacuane. A maioria dos autores que escreveram sobre este povo, dizem
nos originários dos Maráveis, por conseguintes aos Nyanjas e aos Chewas de Tete
e de Niassa. Mas, mais correcta parece ser a tese que considera os Chuabos uma etnia mais recente
resultante da miscigenação dos povos que percorreram o vale de Zambeze devido
as guerras e ao comércio.
Se
entendermos os restantes da população da Província da Zambézia, o fundo
populacional conhecia uma filiação matrilinear. É através do estudo da economia
política do país. Chuabo que das terras compreenderemos as transformações actual
do sistema patrilinear.
Todo chuabo se considera descendente de um
antepassado remoto, todos indivíduos com este antepassado formavam antigamente
um clã e consideravam parentes. Segundo a velha tradição lomwe, o clã tinha por formadura uma matriarca: a descendência
fazia-se por uma via uterinal, por isso o clã era matrilinear, os membros do
mesmo clã não podia casas entre si.
Modernamente os clãs deixaram de ter a sua
importância de outrora e regista-se uma forte tendência paternal com a
constituição das matrilinear “anamudhi”.
A
pessoa mais importante da antiga família matrilinear eram irmão mais velho da
mãe, mas hoje é o tube ou seja, o avo paterno chefe da mudila (famílias
alargadas patrilineares)
No passado os jovens tinham grande
respeito pelo tio, o procuravam mais vezes a sua casa do que a casa da mãe. Era
o tio paterno que detinha nas suas mãos, as rédeas do governo e quem resolvia
todas as questões familiares. As relações de parentesco entre o tio e sobrinho
e reciprocamente atentam hoje antiga instituição do avunalato, apesar da
patrilinearidade se instituir cada vez mais, obrigando-o a largar consultas das
contra partes na busca de solução para os litígios que envolvem os sobrinhos e
outros parentes.
Antigamente não existia propriamente uma
compensação matrimoniar mais só oferendas feitas pelo noivo à família da noiva.
Mais pouco a pouco com a restruturação da família alargada chuabo, em situação
colonial, a própria virgindade da rapariga passou a ser apreciada. Por causa da
compensação matrilinear, chamada péthe
(lobolo), a viúva devia casar prioritariamente com um varão da família uterinal
do marido. Em causa de recusa tinha que devolver o péthe. E quando uma mulher se divorciava, deixava com o ex-marido
os filhos mais velhos.
Segundo Valente de Matos, “cerimónia decorre
da seguinte maneira: os iniciandos acompanhados dos padrinhos vão sentar-se em
linha próximo da barraca do circuncidador, todos voltados para a mesma banda.
Ensinar de respeito para com o mestre operador, mantem se de cabeça baixa. (…) Logo
que os rapazes se sentaram no chão na ordem prevista o circuncidador surge a
porta da sua palhota empunhando o rabo dos medicamentos Mila, e avança em direcção
aos rapazes pondo o rabo estendido sobre cada uma das cabeças. É no momento
quando o mestre da circuncisão coloca o rabo do boi-cavalo na Cabeça de cada
iniciandos e a deixa ficar em equilíbrio, que cada uma faz entrega duma moeda
em valor consoante a idade de rapaz. Em tempos mais remotos pagavam-se com
galinha, enxadas, cordoes de missanga e muito mais.
A imposição de rabo anda ligada a crença
de que se mantiver em equilíbrio o rapaz há-de ter filhos, se ao contrário o
rabo cair ao chão é o indício de que o circuncindado não terá filhos, por
simples esterilidade ou fítico.
Terminada esta cerimónia, o velho
circuncidador retira-se e, depois de se munir de todos os apetrechos necessário
a operação da circuncisão:
ü Um
cesto (mavuku) com varias facas (myàlo) e um corno de antílope cheio de
medicamentos em pó (estutha) para provocar a fecundidade, vai se instalar no
local de circuncisão.
ü Os
adultos dizem aos rapazes que vão encontrar nesse local uma grande colmeia, mas
que não deverão ter medo pois isso significara uma grande falta de coragem.
ü Todavia
os jovens vivem em momentos de trágica ansiedade, por quanto ignoram tudo
quanto esta para lhes acontecer.
Os iniciandos dispõem-se em fila, ficando
a frente os filhos dos escravos, se os houver e, depois os filhos dos homens
livres, noutros lados e em épocas mas recentes, o primeiro da fileira era um
filho de chefe ou pessoa importante, e essa posição era considerada um privilégio.
Os padrinhos tapam-lhes os olhos e, quando
chegam próximo do circuncidador, os ajudantes arrancam-lhes violentamente as
trangas (ikara) e arruam-nas para o
lado ao mesmo tempo que, agarrando os jovens pelas pernas os deitam de costas,
muito justamente os ajudantes são chamados os milhafres (ashaka) num epiceno velho circuncidador toma o pénis do moco
distende-lhe o prepúcio (ntusu) e
corta-o de um só golpe. O rapaz só tem tempo de lançar um grande grito de dor,
pois que e retirando imediatamente pelo padrinho e levando para um lugar, não
muito distante, onde todos vão se ajudar.
Mas para nascente, em Ribaué por volta dos
anos 50 o circuncidador procedia ao corte com um objecto de ferro, afiando numa
das extremidades chamado nejembo.puxava a pele que cobria a grande e extraia
dela um anel da extremidade. O mestre da circuncisão estava mascarado para não
ser reconhecido pelos rapazes, essa mascara que usava chama-se otambo apos cada
corte, o circuncidador aplicava na ferida um remedio chamado mutupulo obtido da
casca de árvore Manágua, um outro, designado pelo termo wachila-wacueque, o significado e wachila (moer) designa a operação feita pelas mulheres quando estão a moer a
mapira nas pedras que usavam para o efeito.
As mulheres executavam esse trabalho de
joelho no chao,fazendo movimento de trás para diante com as ancas pelo que
provocam nos homens que as observavam desejos sexuais, o termo “wacuveque’ quer dizer: depressa rapidamente.
Deste modo, havia a crença que o referendo remedio aplicado no pénis apos o
corte do prepúcio daria ao rapaz grande desejo pelas mulheres.
Nas regiões orientais, mais próxima da
orais o tambor (ekalawe) obedecido as
instruções do operador, retena a acção dos ajudantes e do padrinho do iniciando,
há sons para que a fila se desloque lentamente, sons para marcha, sons para
correr, para tomar a casa, para lamber o mel, finslmente para o corte de
prepúcio.
Para evitar que os outros rapazes dançam
os gritos, os tambores soam internamente, e, por cima das árvores estão empoleirados
alguns homens que imitam os zumbidos das abelhas.
Se durante a operação e circuncidando
urinava ou defecava de dor ou de medo era obrigado a conspurcar-se para mas
tarde, relações normais com a esposa.
A partir corte do prepúcio os rapazes
circuncidados recebem o nome de alukhu,
termo particularmente honroso e dignificante, usado na vida social como
afirmação de palavra da honra. Durante a caminhada os jovens vão cantando o
refrão ou repetem asa canções entoadas pelos adultos.
Vimos já que algumas a partida para o mato
se faz ante s da dança da “mwanamá” a
que estes se executam durante a noite nas proximidades do recinto da iniciação.
Quando assim é os presentes que foram participar nela retiram para as aldeias,
as mulheres principalmente não mais poderão voltar aquele local antes de
terminadas de as cerimónias. Esta dispersão faz-se de um modo violente e deixam
de tocar. Então os dançarinos desfazem a roda, rompem e desenfreada algazarra,
correm por entre os bambus e vergastadas, e avançam um contra os outros acostando-se
mutuamente e clamando oravo!... oravo!... (isto é abelhas!.. Abelhas!). Aturdidas
por aquela guerra feroz, as mulheres presente debandam em fuga desordenada para
suas casas pois que de contrário seriam perseguidas pelos homens. É de realçar
que os iniciandos não participam na dança e que se mantem silenciosos no outro
barracão
O grupo
atribui as considerações finais presente trabalho que, as culturas dos povos
Sena, Nyungwe/Nhúngue e EChuwabo/Chuabo,
suas tradições cultual-identitárias assemelham mas, não na totalidade, os povos
Sena, Nyungwe/Nhúngue e Chuabo etnologicamente são atribuídos estas designações
por serem falantes das línguas dos mesmos nomes respectivamente.
Apesar da globalização as culturas dos povos em
pesquisa recebem as forças de mutação global, mas elas não substituem, por
completo, as identidades culturais específicas nos alguns arredores dos centros
urbanos.
Keesing,
Felix (1972). Antropologia Cultura. Vol. 1.
Martins, Manuel dos Anjos. 1991.
Elementos da língua Nyungwe. Missionários Combonianos. Roma.
http://www.ethnologue.com/show_language.asp?code=nyu Lewis, M. Paul (ed.), 2009. Ethnologue: Languages of the
World, Sixteenth edition. Dallas, Tex.: SIL International.
http://www.mozambique.mz/pdf/constituicao.pdf Constituição da República de Moçambique
(pdf)
Sitoe, B. e Ngunga, A. (eds), 2000.
Relatório do II Seminário sobre a Padronização da Ortografia de Línguas
Moçambicanas. NELIMO, Universidade Eduardo Mondlane, Maputo.
http://lidemo.net/tinembereni-mcinyngwe/ SIL Moçambique. 2010. Tinembereni
mciNyungwe!: Introdução à Ortografia de Nyungwe. Electronic Edition
http://lidemo.net/vodemo/ SIL Moçambique. 2011. Vocabulário da
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Bister, Mikael. 1993. Chapter D: Word
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http://ebooks.adelaide.edu.au/l/livingstone/david/mission/chapter31.html David Livingstone,
“Missionary Travels and Researches in South Africa,” text, n.d.
Elementos de Grammatica Tetense. Victor José
Courtois S.J. Coimbra, Imprensa da Universidade. 1899
Diccionário Portuguez-Cafre Tetense.
Victor José Courtois S.J. Coimbra, Imprensa da Universidade. 1899
Diccionário Cafre Tetense-Portuguez.
Victor José Courtois S.J. Coimbra, Imprensa da Universidade. 1900
http://lidemo.net/categoria/documentos/cinyungwe/ Publicações em Cinyungwe lidemo.net
http://1verse.com/project/nyungwe-nt The Nyungwe New Testament
Índice
pág.
[1] Refente a confiança quer religiosa, familiar, tradicional, regional…
[2] Considera-se exclusão, menos, retirar algo do plural…
[3] Linga local que refe ao individuo que se encarrega pela cerimónia de
informa o pretendente a menina comportada no bairro…
[4] Refente a morte, a família em lutada…
[5] Factor biológico de não reproduzir, dificuldade de ter descendentes…
[6] Auto-exclusão social pelo que individuo é…
[7] Fenómeno pelo qual generaliza ou coloniza-se umas culturas…
Esta mensagem serve para os indivíduos, para os pobres, ou para todos aqueles que
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cordiais saudacoes caro ilustre Berbardo Malua.
ResponderExcluirvim por este meio gratificar pela informacao acima, foi muito util para mim.
Grato por ter lhe coadjuvado.
ExcluirGrande trabalho, parabéns ilustre
ResponderExcluirgato pela consulta.
ResponderExcluirA informação é super valente.
ResponderExcluirparabens pela pesquisa ilustre
ResponderExcluirParabéns.
ResponderExcluirPara bens Malua Forca para a lingua Nyungue
ResponderExcluirNADA A PERDER PELA CONSULTA, NDATENDA PACULU
ResponderExcluirMuito obrigado
ResponderExcluirta no ponto, tathokoza kuambiri
ResponderExcluirAprendi muito e goste
ResponderExcluirOk
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